Sobre 9 Rabinos e Uma Carta
No dia 9 de Dezembro de 2015, uma carta emitida pelo Conselho Rabinico do Estado de Sao Paulo, composto pelos Rabinos Jacob Begun, Henrique Begun, Eliahu B. Vait, Efraim Laniado, Meir A. Illiovits, Isaac Dichi, David Weitman, Itzchak D. Horowitz e d'Ratzfert chegava ao conhecimento de centenas de Bnei Anussim, que viram seus planos, sonhos e esperancas serem despedacados ou bruscamente alterados sem qualquer aviso previo.
A carta, curiosamente direcionada "Ao Casal Ben Nun", acusava o casal de uma maneira pessoal de procurar "a populacao que se auto denomina descendentes de Anussim" e promover o proselitismo.
O choque ao ler tal carta trouxe amargas lagrimas a muitos individuos que pertencem "a populacao que se auto denomina descendentes de Anussim", incluindo a mim.
Nao foram soh lagrimas, sentimentos diversos foram expressos pelos Bnei Anussim em sites de midias sociais, reunioes, telefonemas... enfim. Indignacao, frustracao, impotencia, raiva, furor, ira, duvidas, surpresa, desespero, alivio e felicidade (pelos individuos que concordam o com o teor da carta), sufoco, desanimo ... enfim, todos os sentimentos que voce pode e nao pode imaginar foram sentidos neste dia pelas pessoas que se sentiram tocadas por esta carta. Todos os sentimentos foram sentidos ao extremo. Sentidos e comentados.
No meu caso, que sou uma pessoa de temperamento forte e com pavio muito curto, alem de todos os sentimentos extremos, veio a insonia. Por uma noite... por duas noites... na terceira noite a insonia ainda me fez companhia... junte a isso a falta de apetite, a chegada do inverno (moro no Canada, aqui o inverno eh bem intenso) e vc pode imaginar o resultado: adoeci. Mas estou bem agora, B"H.
O que eu tenho a ver com esta historia da carta? Eu tenho DUVIDAS. E estas duvidas nao me deixam em paz. E estas duvidas ainda me trazem um sentimento de frustracao enorme, ainda ocupam meu cerebro a noite, ainda me fazem dar um suspiro pesado de vez em quando durante o dia, etc, etc, etc.
Onde ha duvidas, nao ha felicidade.
Assim sendo, como uma integrante ativa de klal Israel, qual a minha obrigacao em frente a duvidas? Sim... caros e caras... QUESTIONAR.
Entao eh isso que irei fazer de agora em diante, em Portugues e em Ingles. Por que em Ingles? Porque o mundo nao liga p/ Portugues... numa escala global, "ninguem fala Portugues", entende? Judeus ao redor mundo (falando de uma maneira geral) nao tem absolutamente a minima ideia do que acontece no Brasil.
Essa crise que a carta gerou? Ninguem sabe.
Que a Shavei possuia um emissario no Brasil? Ninguem sabe.
Que as centenas de pessoas que estavam envolvidas com a Shavei-Brasil foram destituidas dos servicos da Shavei? Ninguem sabe.
Que a Shavei Israel JAMAIS nem se deu ao trabalho de enviar uma mensagem de consolo ou fazer qualquer mencao do stress que esta carta causou a vida de muitos? Ninguem sabe.
Que a Conib, que ateh entao apoiava, comentava e orgulhosamente mostrava fotos e fatos das atividades da Shavei no Brasil e que depois da carta, FINGE que nunca teve nada a ver com a Shavei e que jamais fez qualquer mencao do ocorrido? Ninguem sabe.
Cara... eu azucrinei a pagina de Facebook da Conib, as duas paginas de Facebook da Shavei (Shavei-Portugues e Shavei-Ingles) e enviei umas 3 mensagens ao proprio site da Shavei Israel (no Contact Us)... e o SILENCIO da parte deles foi total.
Nenhuma mencao. Nenhuma observacao. Nenhuma resposta.
Vcs jah ouviram falar da expressao 'silencio ensurdecedor'? Eh essa a resposta que as centenas de Bnei Anussim brasileiros e judeus que se compadecem por eles tiveram: o mais absoluto silencio. Um silencio ensurdecedor.
Se tal coisa tivesse ocorrido nos EUA, todo mundo jah tinha sido processado, indenizacoes estariam sendo pedidas, jornais judaicos e nao-judaicos jah teriam se alimentado do escandalo, blogs a favor e blogs do contra jah teriam dado sua opiniao, haveria protestos e manifestacoes.... cara... americanos sao barulhentos pra caramba. Uma agulha cai no chao e o pais inteiro para. Eh o "American way" de lidar com problemas.
Infelizmente no Brasil nao eh assim. A mentalidade brasileira, acostumada a submissao, faz com que as coisas sejam resolvidas em silencio.
"Ah, Esther, mas fazer escandalo nao eh coisa de judeu" se vc pensou nisso, minha resposta serah esta: HUAHUAHUAHUAHUAHUAHUAHUA O QUE????? TAH MALUCO? HUAHAUAHUAHAUAHUAHAUAWPOERUWOIIR
Repito: A mentalidade brasileira eh uma. A mentalidade norte americana eh outra.
Judeus brasileiros se comportam de acordo com a mentalidade brasileira.
Judeus americanos se comportam de acordo com a mentalidade americana.
Judeus europeus se comportam de acordo com a mentalidade europeia.
E assim por diante.
Se uma unica carta tira das maos de centenas de americanos o direito de aprender sobre um assunto que eles tinham grande interesse... uau... nao quero nem imaginar a repercussao INTERNACIONAL que isso teria.
Ok... vamos voltar ao assunto: a carta.
Como eu disse, tal carta me trouxe muitas duvidas. E nao soh a mim... eu comentei seu teor com amigos e eles tiveram as MESMAS duvidas. Dai eu ateh escrevi para um rabino que descende de judeus Espano-Portugueses, mas que cuja familia conseguiu escapar da Inquisicao para a Europa e jamais teve que se converter ao Cristianismo... e este rabino me respondeu com suas duvidas... e ele mencionou o ocorrido com outro rabino... e o segundo rabino tambem teve duvidas...
Antes de explorar quais duvidas, primeiramente tenho que explicar que ha duas percepcoes para esta carta.
A carta lida sob a percepcao de alguem que nao estah familiarizado com leis judaicas possui um teor... mas a mesma carta lida por uma pessoa que estah familiarizada com leis judaicas, possui um TEOR A MAIS. E eh nesta segunda perspectiva que minhas duvidas surgiram... nao soh minhas, mas a de alguns amigos... e a destes dois rabinos...
Duvidas, duvidas, duvidas...
Para analiza-las, vamos dar uma olhada na carta:

1. Por que a carta foi direcionada "Ao Casal" em vez de ser direcionada ao ateh entao emissario da Shavei Israel?
2. Por que o nome da Shavei Israel nao eh mencionado em nenhum momento? Os 9 Rabinos estavam cientes de que o Rabino Bennun foi enviado ao Brasil a servico da Shavei ou eles pensam que o R. Bennun agia de uma forma pessoal? Se os 9 Rabinos estavam cientes de que a Shavei existia e que enviou seu funcionario para trabalhar no Brasil... pq incluir a esposa do emissario na carta?
3. Por que a funcao de 'Emissario' nao eh mencionada?
4. Se houvesse a necessidade de incluir na carta (para torna-la valida) o carater PESSOAL em vez de profissional do R. Bennun, porque ela nao foi dirigida ao RABINO Bennun somente jah que era ele que trabalhava para a Shavei? E... pq a total ausencia de mencao da palavra 'Rabino'?
Estas sao apenas perguntas gerais que qqr judeu perguntaria enquanto toma seu cafeh no Starbucks (cafeh puro no Starbucks eh considerado casher na Am. do Norte).
Agora vamos analizar a carta de uma maneira mais... halachica, digamos assim.
Digo isso pq qdo rabinos tem que validar ou invalidar algo, vcs nao tem ideia do numero de perguntas detalhadas que eles fazem. Um unico detalhe pode anular uma decisao. Da mesma maneira, mesmo que uma situacao nao pareca muito casher a inicio, um unico detalhe pode valida-la.
Por isso temos o dever de questionar qdo temos duvidas. "Pergunte ao Rabino" eh a frase que qualquer judeu mais ouve em sua vida.
Entao vamos perguntar de uma maneira mais detalhada:
1. Na primeira linha: "Chegou ao nosso conhecimento"
a) como exatamente 'chegou ao conhecimento'? atraves de uma carta, e-mail, telefonema, post de Facebook, text message, WhatsApp, Skype, reuniao pessoal (informal), reuniao profissional (formal)?
b) 'chegou ao conhecimento' atraves de QUEM exatamente? Varios individuos ou um unico individuo? Uma fonte fidedigna? Uma fonte "podre"? Uma fonte justa? Uma fonte injusta? Uma fonte que mantem RANCOR ou qualquer tipo de sentimento negativo PESSOAL contra o "Casal Ben Nun" (se esse foi o caso, a carta se torna invalida)? Uma fonte neutra?
c) Seja qual for a informacao que 'Chegou ao nosso conhecimento', tal informacao foi devidamente INVESTIGADA? Se nao foi devidamente investidagada... seria tal informacao somente um RUMOR daninho e mentiroso?
2. "vossas atividades de procurar a populacao que se auto denomina descendentes de Anussim"
a) VossaS? Plural. A acusacao eh realmente feita contra o CASAL e nao ao emissario.
b) "atividades de procurar a populacao" Como essa procura foi feita exatamente? Folhetos? Panfletos? E-mails? Porta a porta? Como exatamente o acusado casal PROCUROU a referida "populacao"?
Voces precisam entender que nomenclatura correta eh TUDO no Judaismo.
Uma palavra pode validar algo e invalidar algo. Uma unica palavra tem um poder enorme. A palavra usada aqui foi "PROCURAR" e nao 'divulgar', 'espalhar', 'comentar', 'colocar um cartaz no muro' etc.
A palavra usada foi "PROCURAR", entao de acordo com a carta, o casal eh acusado de "PROCURAR" a referida populacao. Para validar esta acusacao, deve-se saber exatamente COMO a procura foi feita, e o que exatamente o Judaismo considera "PROCURAR".
3. "com proposta de conversao"
O casal eh entao acusado de 'procurar' um segmento da 'populacao' brasileira com uma 'proposta de conversao'. Proposta de conversao... proposta de conversao... proposta de conversao... proposta de conversao... proposta de conversao... proposta de conversao... proposta de conversao... proposta de conversao... proposta de conversao... proposta de conversao... proposta de conversao... proposta de conversao... proposta de conversao... proposta de conversao... proposta de conversao... proposta de conversao... proposta de conversao... proposta de conversao... proposta de conversao...
a) O que eh halachicamente considerado 'procurar alguem com uma proposta de conversao'?
b) O que eh halachicamente considerado PROPOR conversao a alguem? (na verdade eu tenho ateh um exemplo, que tristemente foi efetuado por um judeu ortodoxo que reside no Brasil e se diz pertencer a um certo grupo hassidico [ele me escreveu dizendo que nao pertence a tal grupo, mas dai ele se apresenta a todo mundo como pertencente a este grupo... ele tem falhas de memoria?] e que explicitamente oferecia em uma midia social CADASTRO para que judeus, bnei noach e interessados em conversao lhe procurassem... nao foi um lance indireto nao, foi um CONVITE aberto mesmo, procurando na cara dura novos interessados em seus cursos. tal individuo ateh ofereceu cursos de "preparacao para possiveis conversoes" [seja lah o que isso significa jah que era um curso pago], e ateh afirmou recentemente que ele pode sim "ajudar no processo de conversao" de um certo individuo, e afirma no mesmo post jah ajudou "varios outros"... well... WELL... WEEEEELL... eu, na minha ignorancia, ACHO que esta atitude que descrevi acima se encaixa no que eh halachicamente considerado propor conversao a alguem... e o casal Bennun NAO FEZ ISSO... well... deixo esta duvida ao Conselho Rabinico de Sao Paulo decidir se eh valida ou nao).
c) Desde a primeira aparicao publica do R. Bennun, ele deixa MUITO CLARO que a instituicao para a qual ele trabalhava, a Shavei Israel, nao tinha NENHUM PLANO de fazer qualquer proposta de conversao no Brasil.
d) Nota pessoal: uma vez a Conib publicou um artigo no site deles onde o R. Bennun afirmava e o escritor do post enfatizava "Nao fazemos conversoes", "Nao viemos aqui para fazer conversao", "Nenhuma conversao serah feita"
e) Se o casal acusado pela carta nao fez nenhuma PROPOSTA de conversao e nao procurou nenhum segmento da populacao com a suposta proposta... volto ao ponto C da minha primeira questao: o mencionado "chegou ao conhecimento" foi investigada ou eh uma afirmacao fruto de um rumor questionavel?
4. "Este assunto exige atencao apenas de autoridades competentes"
Ha uma LISTA de autoridades competentes?
Friso na palavra LISTA porque Rabino Seth Farber levou a rabanut a Corte Suprema Israelense, pois a rabanut NEGA a existencia de qualquer lista de autoridades que lidam com conversao...
A noticia: http://www.cjnews.com/news/israel/israeli-secular-court-to-rule-on-orthodox-conversions
Se voce nao le Ingles, em resumo a rabanut (um departamento religioso do Governo Israelense) possui 100% de monopolio (fui redundante, eu sei) sobre conversoes ortodoxas que sao reconhecidas pelo governo Israelense.
Exemplo real mencionado na materia: Rabino Nissim Karelitz de Bnei Brak, um rabino altamente respeitado no mundo ultra-Ortodoxo (haredi) faz conversoes. Seus candidatos querem seguir o modo de vida ultra-ortodoxo e alguns desejam morar ou se jah se mudaram para Bnei Brak... na boa, a conversao - RELIGIOSAMENTE FALANDO - do R. Karelitz nao eh somente respeitada mas como eh MUITO ESTRITA pois o modo de vida de Bnei Brak nao tem muita ligacao (tipo, no geral nao tem ligacao nenhuma) com um modo de vida moderno... entao religiosamente falando, uma conversao feita pelo R. Karelitz eh valida.... NO ENTANTO, o R. Karelitz NAO ESTAH REGISTRADO NA LISTA da Ranabut... a lista que a Rabanut nega possuir... a lista que todo mundo sabe que existe, mas que perante a Corte a Rabanut ainda insiste em negar sua existencia.... jah que o R. Karelitz nao estah registrado na Rabanut, convertidos do R. Karelitz nao podem registrar seus casamentos em Israel e nao podem fazer Alyiah, pois o registro de casamento e Alyiah sao ligados ao Governo... Se o R. Karelitz nao estah ligado ao Governo, suas conversoes nao podem receber nenhum privilegio do Governo...
Parece meio confuso, mas eh assim que funciona.
Em meio a tantos casos como o descrito na materia acima que impossibilitam convertidos de se integrarem 100% na sociedade israelense, Rabino Seth Farber levou o assunto a Corte Suprema...
Entao... existe a tal lista ou nao existe? A Rabanut nega com todas as suas forcas (The Chief Rabbinate said it does not keep a list of rabbis whose testimony it accepts as authoritative in clarifying a person's Jewish or marital status.read more: http://www.haaretz.com/jewish/news/1.557523)!!! Mas o R. Seth Farber continua com o processo.
Rabino Seth Farber eh o dono do website ITIM (www.itim.org.il/en/).
O caso da 'lista' ainda estah em juizo... tenham certeza de que quando a decisao judicial chegar, serah manchete em TODOS os jornais e blogs judaicos ao redor do mundo.
5. legisladores (poskim) reconhecidos
Ha uma lista de autoridades ortodoxas que estao conectados ao departamento de conversao da Rabanut?
6. Mencao de oposicao do Grao-Rabino Y. Yosef "a estas atividades"
"atividades"... no plural... que segundo a carta seriam a de PROCURAR um segmento da populacao brasileira e lhe PROPOR conversao... sim, o Grao-Rabino Sefaradita de Israel Y. Yosef seria sim oposto a tais atividades, MAS:
a) volto as 3 primeiras perguntas, pois... se o "chegou ao nosso conhecimento" nao for valido, ou seja, se a informacao recebida foi fruto de um rumor e nao de uma investigacao com PROVAS, entao a informacao que chegou ao Grao-Rabino Sefaradita de ISRAEL Y. Yosef tambem merece esclarecimentos... a oposicao do Grao-Rabino Sefaradita Y. Yosef DEPENDE da veracidade da informacao que chegou ao seu conhecimento. Por isso uma reposta clara das 3 primeiras perguntas podem validar ou invalidar a dita oposicao do Grao-Rabino Sefaradita de Israel, pois ele nao pode se opor a uma atividade que nunca existiu, em primeiro lugar.
b) O atual Grao-Rabino Sefaradita de JERUSALEM Shlomo Amar, apoia o retorno dos Bnei Anussim, isso nao eh segredo pra ninguem... ha varias materias e textos publicados com suas afirmacoes positivas e encorajadoras sobre tal assunto... seriam o Grao Rabino Sefaradita de Israel e Grao Rabino de Jerusalem tao opostos a um unico tema?
Nota sobre os mais populares Chief Rabbis (Grao-Rabinos) Israelenses:
- Grao Rabino Sefaradita de Israel eh Yitzchak Yosef
- Grao Rabino Ashkenazi de Israel eh David Lau
- Grao Rabino Sefaradita de Jerusalem eh Shlomo Amar
- Grao Rabino Ashkenazi de Jerusalem eh Aryeh Stern
Ha outros Chief Rabbis, mas estes sao os mais conhecidos pois suas afirmacoes e atitudes sempre sao descritas e acompanhadas pela midia judaica.
... e este foi o comeco de minhas duvidas, as duvidas que me deram a insonia que mencionei no inicio do post ...
Vou nessa porque jah escrevi muito para um dia soh.
Mas voltarei em breve, beezrat Hashem, com MAIS DUVIDAS sobre o paragrafo final desta carta.
Kol tuv,
Esther