top of page

Conversão e Erros de Comunicação


Nestes meus 5 anos de blog, eu sempre me deparo com o problema de quem não sabe se comunicar quando o assunto é o desejo de se converter ao Judaísmo.


Seja por inocência, ignorância ou um acúmulo de “mentiras brancas”, muitas pessoas não se comunicam direito e por isso não recebem retorno de suas ligações ou e-mails.


Como mantenho meu blog como área neutra, onde mantenho diálogo sincero com quem tem interesse tanto pelo Judaísmo ortodoxo quanto o liberal, eu uso o tempo que for necessário para responder em detalhes cada e-mail que recebo de pessoas que tem dúvidas sobre conversão.


Neste post, quero mostrar alguns pontos controversos de emails que recebo e sugestões de como se comunicar melhor.


 

Erro 1 - Exagerar no que você conhece


“Eu estudo Judaísmo há mais de 20 anos, moro em uma cidade com comunidade judaica, mas ninguém responde meus e-mails.”


Eu lido com candidatos a conversão desde 2007, quando me converti. Então com quase 15 anos de experiência no assunto, eu posso afirmar: a maioria das pessoas que começam o e-mail com este diálogo são, infelizmente, as que cometem mais erros de comunicação.


Cuidado. Uma coisa é ACOMPANHAR publicações judaicas há 20 anos. Outra coisa é ESTUDAR Judaísmo há 20 anos.


Um Rabino decente ganha semicha em no mínimo 4 anos de estudo. Uma pessoa pode se formar em medicina em 6 anos. Então afirmar que se estuda Judaísmo há 5, 10, 20 anos é uma afirmação que traz uma grande responsabilidade e se você diz isso, saiba que seu conhecimento será testado a fim de comprovar seu conhecimento.


Há uma grande diferença entre estudar seriamente Judaísmo (o que exige um professor de boa reputação) e acompanhar publicações judaicas, aprendendo um pouco aqui e ali, quando dá tempo.


Não pense você que eu estou te criticando, não é isso. Eu estou tentanto de ajudar.



Já sei o que a maioria de vocês está pensando: “Mas Esther, como é que você sabe se a pessoa não estuda mesmo Judaísmo há 20 anos?”


A resposta é sempre encontrada, geralmente, no segundo parágrafo destes emails, onde a maioria das pessoas confunde grupos judaicos e quer participar de todos ao mesmo tempo, como num jogo de vale-tudo. Quem estuda Judaísmo há 20 anos não pode confundir grupos judaicos...como veremos a seguir:




Confundir Grupos Judaicos e Querer Participar de Todos ao Mesmo Tempo


“Eu escrevi um e-mail para sinagoga X (Reformista ou Conservadora) dizendo que quero seguir o rito Sefaradita e o quão importante é seguir a halacha, mas ninguém me respondeu. Então liguei para a sinagoga Y (ortodoxa ashkenazita) dizendo que quero me converter, mas que não quero aprender nada de ashkenazitas. E ninguém me respondeu. Aí escrevi para outra sinagoga, a sinagoga W. E fui muito sincero com o Rabino da sinagoga W, que é sefaradita, dizendo o quanto quero me juntar a eles, e disse a ele que agora não tenho como cumprir Shabat e cashrut. E me revolta o fato de que ninguém me respondeu até hoje.”


Algumas pessoas realmente cometem os erros citados acima e passam a impressão que querem participar de todos os grupos judaicos ao mesmo tempo.


Se a pessoa tivesse começado o e-mail na humildade, dizendo que simplesmente gosta de Judaísmo, que acompanha publicações judaicas a um tempo, e que gostaria de aprender mais, talvez recebesse uma resposta pedindo para ela estudar mais, com indicação de alguns livros, cursos ou palestras. Mas com o ela já começa afirmando que estuda a fé judaica há 20 anos e não sabe nem onde ela quer se encaixar... ninguém lhe responde porque levaria horas só para informar a pessoa o mínimo sobre a diferença entre os principais grupos judaicos...


Este é meu post sobre GRUPOS JUDAICOS, que mostra um pouquinho da diferença entre eles: https://www.vidapraticajudaica.com/single-post/2015/10/14/Grupos-Judaicos





Um Resumo Sobre Grupos Judaicos:


Os movimentos Reformista e Conservador (Masorti) são movimentos liberais.


Na ortodoxia, há VÁRIOS grupos e sub-grupos, cada um com um modo de vida diferente.


Sefaraditas seguem o rito ortodoxo, e é dividido em 3 grupos (culturais) principais, os sefaraditas do Norte da África, os do Oriente Médio e os que possuem suas origens na Península Ibérica. E dentro desses grupos, há vários sub-grupos.


Ninguém é obrigado a conhecer todos os grupos e sub-grupos judaicos...mas é mandatório que uma pessoa que deseje contactar Rabinos para lidar com conversão, saiba a diferença entre o movimento liberal e o ortodoxos e que tal pessoa não misture, em nenhuma hipótese, as expectativas e o modo de vida de um com o outro.


Meu conselho para quem ainda confunde grupos judaicos é: estude sobre cada grupo. Estude sobre as limitações de cada grupo. Estude o modo de vida, o modo de vestir, de se alimentar, de se comunicar, de agir, de falar... e aí pense muito, mas muito bem sobre o modo de vida que você quer viver a longo prazo. E só então comece a esboçar um e-mail para o Rabino de sua escolha.


Não perca seu tempo explicando para um rabino ortodoxo como você seria mais feliz entre judeus liberais... não perca seu tempo explicando a um rabino liberal como você aspira se tornar ortodoxo assim que possível... isso é altamente desrespeitoso. Faça sua escolha e honre-a.


Se você quer ser ortodoxo, ótimo, estude a respeito e seja racional sobre sua escolha. A vida ortodoxa, mesmo a ortodoxa moderna, possui suas exigências.


Se você quer uma conversão liberal, vá em frente, mas seja realista e não crie expectativas fora da realidade.


 


Erro 2 = Não Consultar Seu Cônjuge Quando Pensa em Conversão


Um grande erro, na verdade.


Pessoas casadas ou que vivem com um(a) parceiro(a) fixo tem que saber que:


comunidades liberais evitam a todo custo converter somente um dos cônjuges e não converter o outro.


Comunidades ortodoxas não cogitam a possibilidade de converter só um cônjuge. Judaísmo é vivido em família, e ou ambos os cônjuges se convertem ou nenhum.


O que fazer, nesse caso? Se divorciar? NÃO!!!! Simplesmente PENSE se uma conversão é realmente o que você quer e converse com seu cônjuge a respeito, de uma forma respeitosa.


Se seu cônjuge não aceitar a idéia de viver uma vida judaica, saiba você que é muito mais importante para Deus uma vida familiar pacífica do que desavenças sob pretextos de conversão. Destruir um casamento para se converter é algo totalmente fora de cogitação, é uma ideia abominável.



Post sobre cônjuges que não querem se converter:



https://www.vidapraticajudaica.com/single-post/2016/12/26/Quero-Me-Converter-Mas-Meu-Conjuge-Nao-quer-E-Agora



 


3 = Estar na Comunidade Errada (judeus com cônjuges não judeus)


Um judeu ou uma judia se casa com uma pessoa não judia.


Aí o judeu ou judia leva seu cônjuge até a comunidade (sinagoga) que ele(a) frequenta... mesmo que seja uma vez por ano.


Aí um dia o cônjuge não judeu mostra interesse em se converter.


Aí.... as coisas empacam... nada vai pra frente... os rabinos vivem desmarcando reuniões... as vezes até mesmo falam que não irão converter ninguém.... e o judeu e seu cônjuge pensam ‘O que está acontecendo?’. Aí ficam com raiva da comunidade e somem.


Eu já vi isso acontecer algumas vezes, até mesmo aqui onde eu moro. Em 99.9% dos casos, o problema não é o Rabino ou a comunidade, o problema é que tanto o(a) Judeu(ia) quanto seu cônjuge estão na comunidade errada pra eles, e é por isso que nada vai pra frente.


Alguns exemplos práticos:


Judeu(ia) sefaradita que NÃO é de ascendência síria frequenta uma sinagoga síria e aí leva seu cônjuge não judeu nesta sinagoga síria e fica nervoso(a) quando o Rabino desconversa o assunto de conversão.... Gente... sírios não fazem conversão. Se você conhece algum cônjuge judeu que faz esse erro grotesco, avise-o(a) para procurar outra sinagoga que não seja síria... isso é um erro de comunicação grave.


2. Homem judeu vive seu modo de vida secular e é muito feliz... mas ele se casou com uma mulher não judia e agora quer que seus filhos sejam aceitos em todas as comunidades judaicas do mundo e aí insiste que a esposa não judia se converta na ortodoxia, mas... este casal não quer mudar o seu modo de vida... não querem cumprir Shabat... não pensam em manter cashrut... Neste caso, o marido judeu não está pronto para fazer teshuva (assumir uma vida religiosa), e a esposa não quer uma vida compromissada com mitzvot. Neste caso, o casal pode procurar uma sinagoga liberal, que pode ser o primeiro passo para uma grande jornada, e se um dia se sentirem prontos para assumir o compromisso de uma vida cuja base e alicerce é cumprir mitzvot, procurar uma conversão ortodoxa para a esposa e filhos. Não adianta escrever para um rabino ortodoxo reclamando da sua frustração se você, cônjuge judeu, não quer seguir os requisitos exigidos por um beit din ortodoxo... isso é um grande erro de comunicação. Não culpe os outros pelas suas ações.


 

O Cônjuge Judeu Sabotador


Eu já vi com meus próprios olhos cônjuges NÃO JUDEUS que querem se converter na ortodoxia e possuem grande interesse em manter mitzvot, mas os cônjuges judeus não deixam... sim, é verdade... alguns cônjuges judeus não querem mudar seu modo de vida e aí fazerm uma leve sabotagem (falando mal de rabinos e ortodoxia em geral) para desanimar o cônjuge não judeu sobre conversão. Aí o cônjuge não judeu fica com raiva dos rabinos e ortodoxia em geral porque não sabe que é seu próprio marido que está sabotando a possibilidade de conversão...


 

Observação Sobre Porque Maridos Judeus São os Campeões em Sabotar a Conversão Ortodoxa de Esposas Não Judias


Há uma grande diferença entre um judeu que se casa com uma não-judia e uma judia que se casa com um não-judeu.


Pelo Judaísmo, a linha materna é a que determina se uma pessoa nasce judia ou não. Sendo assim, uma mulher judia, mesmo que ela mantenha um modo de vida secular e se casar com um homem não judeu, os filhos dessa união serão judeus.


Por outro lado, segundo a lei judaica, um homem judeu que se casa com uma mulher não judia paga um preço alto, pois os filhos desta união não serão considerados judeus.


A maioria das judias que eu conheço que se casaram com homens não judeus nunca nem procuraram por conversão para os maridos... e a minoria procurou por conversão liberal... essas judias sabem que seus filhos são 100% judeus pela halacha, então elas se sentem 'relax' e não pensam em mudar seu modo de vida...e... as judias que agem assim preferem deixar seus maridos na ignorância... e assim o casamento de ambos segue pacificamente.


Já com homens judeus é diferente. O status dos filhos frente a comunidade judaica depende da conversão da esposa não judia... então o assunto 'conversão' é discutido com mais frequência. Esses dias alguns amigos mandaram um print de uma mulher revoltada porque o marido era judeu secular e ela tinha feito uma conversão liberal e aí, um dia ela percebeu que ela e os filhos não eram aceitos como judeus pela família do marido judeu.... olha... pessoalmente eu entendo que essa é uma situação extremamente dolorosa e que tem o potencial de destruir uma família inteira!!! Porém... não há como mudar que está estabelecido nessa área do Judaísmo... O que pode ser feito nesse caso, é a esposa não judia e o marido judeu decidirem levar uma vida de mitzvot e procurarem um rabino ortodoxo para que a esposa inicie um processo de conversão para ela e para os filhos, E O MARIDO APRENDA MITZVOT. Se revoltar na internet é a pior coisa que um casal em uma situação assim pode fazer...


Não sei das estatísticas, mas já vi muitas vezes cenários assim e os maridos judeus ficam super felizes quando os rabinos dizem que as esposas não judias podem iniciar um curso de conversão... mas aí, os rabinos dizem "Você terá que vir assistir as aulas com ela, meu caro." e aí... o marido judeu fica atônito, porque não quer aprender mitzvot e... algumas vezes faz o que descrevi acima, que é sabotar a conversão da esposa. E depois... há erro de comunicação, pois o Rabino não quer colocar esposa contra marido e prefere não explicar esse lance de sabotagem e aí esposa e marido começam a reclamar de ortodoxia bla bla bla... o marido sabotador sabe que a culpa é dele, mas....... continua sabotando, na surdina e esperança que a esposa nunca perceba que conversão não deu certo por causa dele.


 

4 = Histórias Mal Contadas


Gente... há muitas pessoas que começam sua narrativa sobre o desejo de se converter com uma história fenomenal, parecendo um filme... mas aí... quando fazemos perguntas sobre os DETALHES curiosos dessa história, a pessoa começa a mudar de assunto... e as vezes a história se transforma em algo totalmente diferente do que nos tinha sido contado anteriormente.


Não façam isso. Não tentem exagerar seu histórico, ocultar, mentir... seja lá quem lê seu e-mail ou atende seu telefonema, essa pessoa é um ser humano assim como você... e esse ser humano vai desconfiar dessa sua história mirabolante assim como você desconfiaria se um estranho te contasse algo da mesma natureza. Evite esse erro de comunicação.


O caminho mais seguro é contar a verdade, mesmo que ela seja humilde ou estranha. Diga de onde você veio, idade, o que você realmente já leu sobre Judaísmo, deixe claro que você tem muito a aprender... as vezes a nossa história pessoal é chata, mas saiba que não há problema nenhum nisso.


Quem lida com conversão ao Judaísmo está atento a DETALHES... e como todos sabemos, mentirosos tem memória curta e sempre pecam nos detalhes. Então, seja claro(a) e cristalino(a) quando contar a sua história.


 


5 = Desrespeito


As duas formas de desrespeito mais comuns são causadas por:


Cansaço por parte do candidato a conversão

Arrogância por parte do candidato a conversão


Cansaço

O cansaço acontece quando o candidato já gastou a maior parte de sua energia e paciência com trambiqueiros e charlatões religiosos. Esse candidato gastou tempo, dinheiro, paciência, esforço mental, esforço físico e já fez muito auto-sacrifício para satisfazer as loucuras e caprichos do charlatão que o enganou por meses ou anos.


Então... quando finalmente este candidato encontra um rabino honesto que concorda em lhe ouvir, o candidato já estão tão alucinado com tudo o que sofreu que se ofende com as perguntas mais básicas que o rabino honesto faz e acaba o ofendendo, e assim... perdendo contato com a única pessoa que poderia lhe oferecer uma luz no fim do túnel.




Arrogância

Well... um copo cheio não pode receber nada... uma pessoa que ACHA que sabe muito sobre Judaísmo é incapaz de aprender... e aí, quando um rabino honesto tenta lhe explicar como funciona a lei judaica, tal pessoa se revolta e começa a inventar desculpas, que se transformam em acusações e aí ofende tal rabino, perdendo assim a oportunidade de sair do lamaçal de ignorância e arrogância que se encontra.



Conselho: seja humilde e se considere sempre um copo vazio, assim você pode receber.



 


6 = Confundir Direito a Cidadania Portuguesa com Direitos Frente ao Judaísmo


Alguns anos atrás, os GOVERNOS da Espanha e Portugal tomaram a decisão de dar cidadania de seus respectivos países para pessoas que possam provar que descendem de judeus que foram expulsos ou que fugiram ou se refugiaram devido a perseguição religiosa ocorrida em seus países há mais de 500 anos atrás.


A pessoa que acredita descender desses judeus sefaraditas e que querem a cidadania portuguesa, por exemplo, deve fazer genealogia documental e enviar essa documentação para a CIL (Comunidade Israelita de Lisboa) ou CIP (Comunidade Israelita do Porto). A lista de documentos está aqui: https://justica.gov.pt/Como-obter-nacionalidade-portuguesa/E-descendente-de-judeus-sefarditas-portugueses


AGORA NOTEM QUE ESTE PROCESSO É UM PRIVILÉGIO DADO PELO GOVERNO DE PORTUGAL, ou seja, é um direito a cidadania portuguesa e não tem absolutamente NADA a ver com o Estado de Israel ou qualquer reconhecimento religioso frente ao Judaísmo.


Há judeus sefaraditas, principalmente do Marrocos e Turquia, que conseguiram provar que descendem de judeus portugueses e espanhóis e assim conseguiram cidadania portuguesa ou espanhola. Estes permaneceram judeus – através de uma linha materna ininterrupta - por todos os séculos depois que deixaram Portugal e Espanha.


E... há os descendentes de judeus que não são mais judeus (a lei judaica determina que quando a linha materna judaica é interrompida, os descendentes de uma união de pai judeu e mãe não-judia não é considerado judeu), mas que possuem documentos que provem que descendem diretamente de judeus que saíram de Portugal e por isso, tal pessoa também tem direito a cidadania portuguesa, caso apresente todos estes documentos à CIL (eu não tenho certeza se a CIP ainda lida com este tipo de processo de cidadania portuguesa).


A maioria dos anussim com genealogia documental com os quais mantenho contato são pessoas racionais, sensatas e que gostam de aprender, mesmo quando o aprendizado contradiz suas expectativas e aceitam o que está escrito acima sem problema algum, pois é a verdade.


Maaaaaaaaaaaaaaaaaaas....há uma MINORIA que tem causado uma confusão mental no Brasil todo... estes são indivíduos que não conseguem aceitar a lei judaica, não conseguem aceitar a história do Brasil (a base de nossa população foi formada por uma maioria de homens europeus e mulheres índias e africanas) e que, de forma irracional, criam ilusões profundas em suas mentes e as falam aos 4 ventos que agora são judias porque receberam o certificado da CIL.

Esclareço que essa pessoa, ao receber o certificado da CIL é cidadã portuguesa, mas não é judia.


Nestes 500 anos de miscigenação brasileira, quantos ascendentes nossos são indígenas? Africanos? Judeus? Norte africanos? Europeus? A ascendência da maioria dos brasileiros é bem mista... e infelizmente alguns brasileiros estão se esquecendo disso e falando apenas de uma única ascendência, a judia.


Alguns criaram um tal de “Judaísmo do Coração”, onde dizem arrogantemente que são judeus, quer a halacha queira, quer não.


Deus não habita na arrogância.


 


Recebi essa pergunta:


Quem recebe o certificado da CIL, que dá direito a cidadania portuguesa, recebe também o certificado de zera Israel?


Wow... por onde começar...


A resposta simples é = Não. Quem recebe o certificado da CIL, não recebe nenhum certificado de zera Israel, simplesmente porque tal absurdo de “certificado zera israel” é um nonsense, uma enganação total, algo que NÃO EXISTE no Judaísmo.


O termo “zera Israel” virou algo muito confuso no Brasil devido as más explicações (se é que alguma explicação foi dada a respeito) que teriam vindo de r amsalem, em suas respectivas visitas a diversas regiões brasileiras.


O que é zera Israel? Quando falamos de descendentes de judeus, zera Israel é uma expressão que se dirige a filhos de PAI JUDEU e mãe não judia.


Zera é uma palavra hebraica que significa 'semente'... e a palavra semente, nesse contexto de descendência de pais judeus, significa sêmen.


Há uma proibição na Torá, que é a de hashchatat zera (levatala), emitir sêmen (em vão)...essa aveira (transgressão) ensina que um homem só pode emitir zera, emitir sêmen, emitir sua semente de procriação em relações maritais. Para quem quer estudar esse assunto, é só pedir para seu rabino explicar o assunto de tumas zera (impureza da emissão de sêmen em vão).


Então quando alguém fala “Oi, meu nome é X e eu sou zera Israel” no Brasil... tipo assim... não é uma maneira legal de se apresentar, entendem? Entre judeus, sabemos que existe essa categoria de descendentes de judeus, mas NINGUÉM se apresenta dessa maneira pq é algo... estranho. O termo zera Israel é dito em particular, de forma discreta e ANTES da conversão desta pessoa que descende de pai judeu. DEPOIS da conversão, o termo deixa de existir e a pessoa se torna apenas JUDEU ou JUDIA.


Agora....a confusão sobre o termo zera Israel que se estabeleceu no Brasil é porque esse r amsalem tem uma teoria que ele mesmo criou e defende de que zera Israel é uma categoria que não tem prazo de validade, ou seja, pra ele, entram na categoria de zera Israel todos os descendentes de homens judeus desde o recebimento da Torá no Sinai até hoje.


Segundo esta visão, praticamente a humanidade inteira seria zera Israel. Essa teoria criada pelo r amsalem é interessante, admirada por POUCOS INDIVÍDUOS, e por isso, ela NÃO é seguida pela maioria de rabinos e por isso NÃO é a teoria aceita.


Se alguém que teve um ascendente judeu a 500 anos atrás (entre todos os outros ascendentes índios, africanos, europeus etc) e hoje, 500 anos depois a pessoa quer se chamar de zera Israel... fazer o quê? Faça o que você quiser. Mas fique ciente de que NÃO é uma teoria seguida pelo povo judeu. É uma teoria interessante, repito, mas não é o ponto de vista aceito.


No Judaísmo, a categoria de zera Israel se limita apenas ao pai judeu. Zera Israel é o filho direto de um pai judeu e uma mãe não judia.


 

Segunda pergunta que recebi: “É mais fácil para o zera Israel se converter do que uma pessoa que não tem é zera Israel?”


A resposta é: se estamos falando do que o Judaísmo contemporâneo entende por zera Israel, que seria o filho ou filha de um pai judeu e mãe não judia, então a resposta é sim. A conversão de tal pessoa pela ortodoxia fica mais fácil porque tal pessoa já foi criada dentro da cultura judaica, frequentando escolas judaicas, metade da metade da família é judia, provavelmente essa pessoa já fez Taglit (uma viagem gratuita a Israel) e tal pessoa tem direito a cidadania israelense e a todos os direitos que o goveno israelense provê para judeus, filhos e netos de judeus. O zera Israel é literalmente metade judeu, então todo o aprendizado necessário para o processo de conversão é naturalmente absorvido com mais facilidade, pois tal pessoa já conhece, já vive muitos dos aspectos que são ensinados no curso.


Agora, se o termo zera Israel é ligado a teoria do r amsalem, onde uma pessoa não parentes judeus, nunca entrou em sinagogas, não tem acesso a escolas judaicas etc etc etc...essa pessoa tem que começar a estudar Judaísmo do zero. Tem que aprender princípios da fé judaica do zero, tem que aprender cultura judaica do zero... em termos práticos, se ela descende ou não de um judeu que viveu séculos atrás não ajuda no processo de conversão.


E eu aproveito pra repetir, se você pagou US$100.00 por um tal “Certificado de Zera Israel” ou "Certificado de Anussim", você jogou seu dinheiro no lixo, porque tal certificado não possui valor nenhum nem entre o povo judeu, nem frente ao governo português e muito menos frente ao governo israelense. Peça seu dinheiro de volta ou simplesmente guarde o papel por motivos de comprovante que um dia você foi explorado financeiramente.


Você pode ver uma foto de um destes certificados falsos e caros neste post: https://www.vidapraticajudaica.com/single-post/2019/08/19/Porque-Reclamei-do-ventura


 


7 – Falar em Conversão Sem Saber Como O Que É Uma Vida Judaica


Vamos lá... esse é um ponto de grande confusão... muitas pessoas que dizem que querem se converter, mas ao mesmo tempo, elas não sabem o que exatamente isso significa.


Há dois tipos de conversão ao Judaísmo = a conversão LIBERAL, que é feita pelas comunidades Reformistas e Conservadoras (Masorti) e a conversão ORTODOXA, que é feita por comunidades haredim, hassídicas, ortodoxas modernas, yeshivish e sefaraditas.




Conversão Liberal

O indivíduo que quer fazer uma conversão liberal tem que estar ciente de que seu gyiur (conversão) não será aceito por comunidades ortodoxas. É duro ler isso, eu sei.


Comunidades liberais exigem uma certa adaptação cultural na vida de seus gerim (pessoas que se convertem), ou seja, que morem perto de comunidades judaicas, que participem de atividades culturais e religiosas e algumas até mesmo exigem que antes da conversão, o candidato estude CULTURA judaica e israelense. O modo de vida PESSOAL do ger (pessoa que se converte) liberal não muda muito... ou seja, não há exigência em mudanças de vestimenta, alimentação ou observância religiosa... é o próprio ger que escolhe o que vai vestir, comer e quantas tradições judaicas introduzirá em sua vida. Não há nenhuma represália se o ger liberal decidir viver um modo de vida semelhante ao que vivia antes da conversão.




Conversão Ortodoxa

O indivíduo que quer se converter segundo o ponto de vista ortodoxo (ortodoxo = viver em conformidade com princípios doutrinários aceitos pela maioria que exercem a mesma fé, sem qualquer inovação ou com um mínimo de inovações em suas práticas religiosas) tem que estar ciente de que há exigências que serão feitas de seu comportamento, religiosidade, vestimenta, alimentação, socialização e educação.


Por exemplo, um curso de conversão ortodoxo (ou ortodoxo-moderno) dura em média entre um e dois anos, dependendo do nível de conhecimento judaico que o candidato a conversão possui. Um candidato que sabe mais de lei judaica se converte em menos tempo. Um que sabe menos, se converte em mais tempo. Cada candidato é entrevistado de forma INDIVIDUAL, mais de uma vez por ano, e seus conhecimentos são testados pelos rabinos que lhe entrevistam.


Durante o curso de conversão ortodoxo, o candidato aprende princípios da fé judaica, história do povo judeu, um pouco de filosofia judaica, leis que regem o Shabat, feriados judaicos, cashrut, comportamento e modo de vestir (conforme a comunidade que o ger quer participar).


Essas exigências tem que ser expostas gradualmente, pois é praticamente uma transformação cultural, mental e espiritual. Por exemplo, no aspecto de cashrut... o candidato a conversão ortodoxa tem que estar ciente de que não poderá mais comer alimentos preparados por parentes não judeus... não irá mais confraternizar com alimentos com amigos que não mantem cashrut (sejam estes amigos judeus ou não), terá que aprender a dizer NÃO a cada pessoa que não mantém uma cozinha casher e que lhe convida para uma refeição ou que lhe oferece algum tipo de alimento caseiro... eu digo a vocês, por experiência própria, que essa é a parte mais dura. É a parte mais dura pois envolve a possibilidade de entristecer e magoar parentes e amigos. Todas as outras “transformações” do Judaísmo são pessoais, mas a alimentação casher afeta o nosso lado social, afeta nosso relacionamento com família e amigos. Então se o indivíduo não está preparado para recusar alimentos não casher, tal indivíduo não está preparado para se converter na ortodoxia.


Não é um aprendizado rápido, é literalmente adquirir OUTRA CULTURA, é viver uma outra cultura... quem já morou em outro país já teve um gostinho do quão desafiador é se adaptar a outra cultura... se converter ao Judaísmo é mais ou menos da mesma forma, absorver e fazer parte de outra cultura.


Há a transformação no guarda-roupa (roupas com mangas, decotes altos, mulheres usam saia na altura ou abaixo do joelho etc), na vida profissional (não trabalhar em Shabat e feriados) e... depois de tudo isso, há os gastos com artigos religiosos.


Agora entendam, esses gastos com artigos religiosos são a parte mais incompreendida de um processo de conversão.


Minha explicação é simples: gerim vem sozinhos. Judeus de nascimento vem em grupo.


Em outras palavras, gerim (pessoas que se convertem ao Judaísmo) chegam sozinhos no Judaísmo e dependem de seus próprios esforços para adquirir todos os artigos religiosos necessários para a vida judaica. Sejam livros, talit, mezuzá, tefilin, roupas, arbaa minin, chanukia, artigos para Pesach etc etc etc... o ger constrói tudo sozinho do mais absoluto zero.


O judeus de nascimento, por outro lado, tem uma FAMÍLIA judia a trocentas gerações e todos os artigos judaicos, ou maioria de artigos judaicos, chegam a posse deste(a) judeu(ia) de forma natural... por exemplo, os avós maternos dão o tefilin no dia do bar mitzvah, os avós paternos dão o talit e uma mezuzá, a tia dá uma chanukia, um tio dá outra chanukia, parentes diversos presenteiam outros artigos, aí vem o casamento e o(a) judeu(ia) tem a oportunidade de receber presentes da comunidade etc etc etc... é uma vida construída em comunidade... os pais, tios, avós, primos, vizinhos, professores, todo mundo na vida deste(a) judeu(ia) de nascimento é judeu também... é uma comunidade, uma cultura, um povo!


Gerim vem de mãos vazias... mesmo os gerim que são financeiramente abastados vem sozinhos e também tem que construir tudo do zero. Nossa jornada no Judaísmo, como gerim, é dura. A gente se acostuma, na maioria das vezes não vemos o tamanho dos desafios, e simplesmente fazemos o que deve ser feito (como no dizer ‘sem saber que era impossível, ele foi lá e fez’).


Leva uns bons anos para nos adaptarmos, mas um dia, nos encontramos totalmente integrados ao povo judeu, nos tornamos parte deste povo. Nos tornamos judeus segundo a halacha quando saímos da mikvah, mas isso não significa que estamos totalmente adaptados a vida judaica... há ainda muito aprendizado cultural a se fazer depois da conversão... demora-se uns bons anos para que nos sintamos confortáveis o suficiente para nos vermos como judeus também pelo lado cultural. A vida é um eterno aprendizado.


Então se você, que pensa em se converter ao Judaísmo ortodoxo, não se sente preparado para estas mudanças radicais em seu modo de vida, talvez esse não seja o melhor momento para você procurar um rabino e discurir conversão. Pense bem se esse modo de vida lhe traria felicidade ou te deixaria depressivo, se sentindo oprimido...seja honesto(a) com você mesmo(a).


Agora....para aqueles que pensam “Ah, vou me fingir que sigo halacha, me converter na ortodoxia e depois que receber meu certificado, farei o que quiser porque não devo nada a ninguém.” Colega...você pode fazer isso, mas um dia você responderá por suas ações na frente de Hakadosh Baruch Hu. Escolha sabiamente. Ser religiosamente honesto é mais fácil tanto neste mundo quanto no vindouro.


Nota: há como estudar no Brasil. Mas pense primeiro se esse modo de vida restrito é o que te traria felicidade.


É Necessário Conversão Para Servir a Deus? Link:

https://www.vidapraticajudaica.com/single-post/2019/06/27/%C3%89-Necess%C3%A1rio-Convers%C3%A3o-para-Servir-a-Deus



Avaliação Psicológica Para Conversão ao Judaísmo? Link:

https://www.vidapraticajudaica.com/single-post/2017/12/27/Avalia%C3%A7%C3%A3o-Psicol%C3%B3gica-Para-Convers%C3%A3o-ao-Juda%C3%ADsmo


 


8 – Morar Longe


Infelizmente a comunidade judaica brasileira é minúscula e concentrada nas capitais de São Paulo e Rio de Janeiro.


Pessoas que moram longe destas capitais não possuem muita opção do que fazer, além de se dedicar a estudos judaicos e REZAR para que Hakadosh Baruch Hu lhes abra uma oportunidade de se converter.


E pense bem: VOCÊ QUER SE CONVERTER OU APENAS FAZER PARTE DE UM GRUPO SOCIAL COM QUEM SOCIALIZAR?


Muitas vezes noto que algumas pessoas que dizem querer se converter estão interessadas apenas no lado SOCIAL do Judaísmo, ou seja, o lado de fazer novos amigos, novos contatos, etc e que não estão interessadas em assumir os compromissos que uma vida judaica exige.


É como a idéia de alguém querer se relacionar sem compromisso, sem pensar em casamento... namorar apenar pra curtir... alguns querem socializar com um novo grupo de amizade composto por judeus, mas não querem se comprometer com as responsabilidades que uma vida judaica impõe.


Pense bem sobre isso...


Outros querem se converter porque pensam que terão um relacionamento melhor com Deus. Será? Ninguém precisa se converter para ter um melhor relacionamento com Hashem. E na verdade, quando uma pessoa se converte e não cumpre mitzvot, tipo... o relacionamento dela com Deus se deteriora...principalmente para quem se converte na ortodoxia e depois deixa de cumprir mitzvot...


Eu sempre me impressiono que a maioria das pessoas que querem se converter fazem de tudo, menos rezar. Muitas se rebelam, chingam, são arrogantes, batem na mesa, criam confusões, ameaçam etc etc etc... e se esquecem que quem abre todas as portas é Hakadosh Baruch Hu. Se a pessoa que quer se converter não acredita nisso, então fica provado meu ponto de que tal pessoa anseia por uma mudança na vida social e não um passo em direção a um compromisso religioso.


Há tempo para tudo.


Pense no que te faria feliz a longo prazo.


Pense na sua capacidade de dizer não, caso você queira uma conversão ortodoxa, porque NÃO é a palavra que você dirá com muita frequência...até mesmo para sua mãe, que faz aquele prato favorito seu que só ela sabe fazer... well... depois de uma conversão ortodoxa, você terá que dizer não a ela. Com educação, é claro, mas... um não ainda é um não.


Estude, leia e procure ser racional em suas escolhas.


Mantenha-se longe de atalhos.


Pesquise o nome de "rabinos" no Google para saber se você está seguindo um charlatão ou um rabino honesto.


Fique atento a sinais vermelhos, sinais de alerta.


Não culpe rabinos antes de pensar exatamente no que você disse a eles.


Faça de tudo para se comunicar com clareza!


Ok galera, espero ter esclarecido algumas dúvidas. Qualquer coisa, meu e-mail é vpjudaica@gmail.com




Kol tov,





Esther










bottom of page