O Que é Challah 'Ashisha'?

No daf de hoje, Pesachim 36, lemos sobre uma grande discussão sobre qual o tipo de matza que é válida para cumprir a mitzvah na primeira noite de Pesach.
No final é concluído que somente matzá feita com farinha e água cumpre a exigência da mitzvah, pois matzá é o 'lechen oni', pão da aflição, pão do homem pobre.
A discussão teve início porque também existe a matzá feita com suco de frutas, vinho, mel. Tal matzá é chamada de 'matzah rica', pois é enriquecida com sabores e líquidos que não estão disponíveis na mesa de um homem pobre.
Hoje em dia, muitos Rabinos permitem o consumo de matzah rica durante a semana de Pesach, mas TODOS os Rabinos, de todos os tempos, concordam que somente matzá tradicional, a feita com somente farinha e água é capaz de propiciar o cumprimento da mitzvah de matzá na primeira noite de Pesach (e para nós da Diáspora, no segundo Seder também).
A discussão segue adiante para qual tipo de farinha pode ser usada para confecção de matzá, se a farinha tinha que ser rústica ou se farinha fina, digna da côrte real do Rei Salomão seria apropriada para fazer 'matza oni', o pão da aflição, e a conclusão final é que mesmo farinha fina e branca, digna de Rei Salomão, pode ser usada na confecção da matzá que servimos no Seder.
Os Rabinos da Gemara (Talmud) então repetem que matzá deve ser 'lechem oni', e isso exclui pão escaldado (um tipo de massa que era fervida e depois assada, o que nos ensina que a massa de matzá só pode ser assada) e então mencionam que o pão ASHISHA não pode ser consumido durante Pesach.
Mas o que é esse pão ASHISHA?
Segundo o Aruch Hashulchan 454, 3, este é um grande pão feito para ocasiões importantes.
O termo 'ashisha' vem de II Samuel 6:19, onde Rei Davi distribui a todo o Israel, homens e mulheres, um pão, uma porção de carne e um recipiente de vinho!
Em Hebraico, a porção de pão (lechem) é descrita em companhia da palavra veashpar.
Rav Chanan bar Abba, um dos Rabinos citados no Talmud, ensina que a palavra eshpar e ashisha possuem a mesma raiz e que esta raiz vem do termo UM SEXTO (echad mishisha), que se refere a medida da época, como por exemplo, um sexto de um boi...
Rav Chanan bar Abba presume que cada pão dado pelo Rei Davi ao povo era equivalente ao sexto de uma medida da época conhecida como epha (efa), pois esta era a medida usada para produtos secos, como a farinha, como vemos em Ezequiel 45:13 e 46:14.
O comentarista Rashi (1040-1105), também concorda que o termo ashisha descrito no Talmud se refere a uma medida relativa ao tamanho de uma epha.
Em medidas modernas, o sexto de uma epha em farinha equivale entre aproximadamente 2.9kg a aproximadamente 3.6kg.
Sendo assim, cada pão que Rei Davi deu ao povo tinha aproximadamente 3kg! Era um pão gigante!
Até hoje encontramos reminiscência desta tradição em alguns casamentos e ocasiões especiais onde uma challah gigantesca é colocada sobre a mesa para receber a benção hamotzi, e só após esta benção as festividades tem início!
Pessoalmente, eu já vi chalot gigantes em alguns casamentos dos quais fui convidada e em alguns eventos hassidicos que assisti online, mas só hoje, ao estudar este trecho do Talmud, entendi o significado da origem desta tradição de fazer uma challah gigante.
Surge então a pergunta: como é possível alguém sequer pensar na possibilidade de assar um pão gigantesco durante Pesach?
Saiamos da ideia de pão e voltemos para a ideia de massa.
A massa de matza consiste de farinha e água. Tal massa pode ser moldada em qualquer formato, redonda, quadrada, de espessura fina, média ou grossa...e se acumulada em grande quantidade (uma grande bola, um cilindro de massa ou no formato de uma pizza bem grossa), ela se tornaria um grande aglomerado de massa (do tamanho do pão ashisha!) e poderia ser colocada no forno.
O que difere massa fermentada (proibida em Pessach) da não fermentada é o tempo que leva da mistura dos ingredientes até o momento que ela é assada.
Se alguém fizesse uma grande massa com farinha e água e colocasse no forno rapidamente, TEORICAMENTE, essa grande massa poderia ser considerada uma matzá gigante!
Mas...como há o risco de que uma massa tão grande não asse dentro do limite de tempo exigido para matzá, assim como há o risco que a massa venha a fermentar devido a sua espessura, os Rabinos do Talmud unanimemente proibiram 'lechem ashisha', uma grande massa de ser assada para e durante Pessach.
E é por isso que nossas matzot são finas.
Estudo dedicado a lilui nishmat de uma amiga mais do que irmã, a qual tive honra de conhecer e que ensinou muito do que sei hoje, Miriam bat Eliyahu. Miriam foi uma mulher cuja devoção e amor dedicados a família e amigos não tinha limites, uma mulher que realmente tinha temor dos Céus e demonstrava isso em suas palavras e ações, diariamente, da forma mais genuína possível. Mesmo nos momentos mais difíceis que enfrentou, principalmente relacionados a saúde, Miriam sempre demonstrou amor e respeito a Hakadosh Baruch Hu, um exemplo de santidade que é muito raro de se encontrar hoje em dia. Que sua memória seja para benção.
Certamente procurarei passar adiante o exemplo de amor que ela ensinou a todos que a cercavam.

Eu e minha amada amiga, Miriam bat Elyahu, que retornou a Hashem hoje, 12 de Tevet